Auditoria ESG

Como trazer sustentabilidade na cadeia de suprimentos

Publicado em:

A cadeia de suprimentos é parte de uma atmosfera conectada pelo trabalho, não é possível falar sobre uma pauta tão importante como ESG sem mencionar todos que estão direta ou indiretamente ligados à empresa. A crescente preocupação com as mudanças climáticas, a escassez de recursos naturais, consumidores cada vez mais conscientes e exigentes, governos preocupados com as pautas ambientais e sociais, têm gerado uma onda de transformação no mercado, é sobre isso que vamos falar hoje. 

O termo ESG (Environmental, Social e Governance), tornou-se um fator determinante na tomada de decisão de investidores e consumidores. Dados globais apontam um aumento significativo nos investimentos em empresas com foco em sustentabilidade. Fundos de investimento ESG ultrapassaram marcas bilionárias, e empresas de diversos setores estão incorporando critérios ESG em suas estratégias de negócios. 

No Brasil, a adesão ao ESG também tem se intensificado. Empresas de diversos setores, como energia, mineração, agronegócio e financeiro, têm desenvolvido iniciativas para melhorar seu desempenho ambiental e social. A criação do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) pela B3, a bolsa de valores brasileira, foi um marco importante para o desenvolvimento do mercado de ações sustentáveis no país. 

A cadeia de fornecedores engloba todas as empresas e processos envolvidos na criação de um produto ou serviço, desde a extração de matérias-primas até a entrega ao consumidor final. Ao longo dessa cadeia, diversas oportunidades e desafios relacionados à sustentabilidade podem surgir. Você pode estar se perguntando, se o caminho é tão complexo, por que integrá-los nessas práticas? A resposta é simples, todos que fazem parte da materialização do produto, devem fazer parte da agenda ESG. Estamos falando de todos cooperando para um objetivo em comum.  

 

Na prática, como trazer essa sustentabilidade para a cadeia de fornecedores?  

Antes de levar as práticas para o fornecedor, é preciso que a empresa dê o exemplo. O discurso ESG precisa estar dentro do propósito/objetivo da organização, seja por ética, lucro ou pressão do mercado. Quando a empresa consegue incorporar e materializar a sustentabilidade internamente, aí é possível pensar na cadeia de suprimentos, tendo em vista sempre o diálogo estreito com a alta gestão. É essa cúpula que tornará palpável a agenda ESG de dentro para fora.   

“ESG veio para ficar, é o caminho para o negócio ter perenidade” Marcell Gameiro – Citrosuco. 

Com isso em mente, pense: o que será priorizado dentro dessas práticas? Como será feito? Como começar? Começamos pela fundamentação? Partimos para a prática?  

 

  • Mapeamento e avaliação da cadeia de fornecedores: 

Identificação: mapear todos os fornecedores, desde os diretos até os indiretos, e compreender suas atividades e impactos faz parte do roadmap de uma estratégia que deve alcançar os fornecedores. 

Avaliação: observe o desempenho de cada fornecedor em relação aos critérios ESG que a sua empresa deseja atingir. Entenda quais podem entrar no roadmap traçado e lembre-se que você está buscando adequação do fornecedor aos seus objetivos, isso deve evitar que você haja como autoridade.  

  • Estabelecimento de critérios e expectativas: 

Definição de critérios: os critérios de adequação devem ser claros e mensuráveis. Esses critérios podem incluir aspectos como redução de emissões de carbono, uso de energia renovável, gestão de resíduos, direitos humanos e diversidade.  

Comunicação: comunicar de forma transparente aos fornecedores as expectativas da empresa em relação à sustentabilidade é um passo fundamental no processo e muitas vezes negligenciado.  

  • Colaboração e desenvolvimento de fornecedores: 

Capacitação: a empresa precisa chegar junto ao fornecedor, é mostrar o caminho e acompanhá-lo. O que observamos muito são empresas que exigem adequações de seus fornecedores, mas não oferece recursos materiais ou intelectuais para que eles consigam esse objetivo.  

Incentivos: embora a melhoria seja benéfica para o fornecedor, ele se adequará ao seu modelo de estratégia para atingir um objetivo da organização. Por isso é interessante criar programas de incentivos que demonstrarem um bom desempenho em relação à sustentabilidade. 

“Aqui na Citrosuco nós temos uma meta pública de ter 100% da fruta certificada até 2030. Em vez de falar ao fornecedor sobre essa meta, eu vou na propriedade dele, faço uma revisão com todos os erros e melhorias observados, e deixa um relatório de como corrigir. Nós acompanhamos essa jornada e ajudamos financeiramente com a primeira certificação.” 

A Citrosuco não fala ”auditoria”, Marcell Gameiro, gerente de compras na empresa, explica que o termo causa estranheza e dá a sensação de punição. Adotar uma linguagem que atenue essa percepção é parte importante da abordagem. 

Parcerias: estabelecer parcerias com outras empresas e organizações para compartilhar conhecimento e recursos é uma boa decisão diante da natureza da temática (ESG) e de seu caráter tão novo e desafiador.  

  • Monitoramento e avaliação 

Indicadores: definir indicadores-chave de desempenho (KPIs) para acompanhar o progresso dos fornecedores em relação às metas de sustentabilidade é um passo ao mesmo tempo importante e complexo. Pergunte-se: Por que estou fazendo? Para quem estou fazendo? E obtenha resultados melhores.  

Relatórios: solicitar relatórios de sustentabilidade periódicos dos fornecedores para avaliar seu desempenho e ajudá-los nessa construção reafirma a intenção, a parceria e o desejo de construir em conjunto.  

 

Exemplos de práticas concretas

No setor de vestuário, por exemplo, solicitar que os fornecedores utilizem algodão orgânico, reduzam o consumo de água no processo de tingimento e garantam condições de trabalho justas nas fábricas, podem ser iniciativas requeridas pela empresa contratante para que se atinja o objetivo ESG.  

No setor de alimentos, estabelecer parcerias com agricultores locais para garantir o abastecimento de produtos orgânicos e de temporada, reduzindo a emissão de gases de efeito estufa associada ao transporte de alimentos, são exemplos de reinvindicações que podem ser solicitadas pela organização.  

Já no setor de tecnologia, determinar que os fornecedores utilizem materiais reciclados na fabricação de equipamentos eletrônicos e implementem programas de coleta e reciclagem de produtos ao final de sua vida útil é um terceiro bom exemplo de como atingir a agenda ESG.  

Lembrando que o caminho entre demandar e conseguir, há um fornecedor que pode não saber pode onde começar. Há um fornecedor que não consegue o básico, por exemplo, gerir os seus funcionários de maneira correta (é aí que entra a gestão de terceiros). É aí que entram aqueles passos já mencionados por aqui: organizar workshops, palestras, tira-dúvidas, gestão em campo e o que mais for necessário de acordo com o objetivo da empresa.  

 

Prepare-se para alguns desafios

A implementação de práticas de sustentabilidade na cadeia de fornecedores, embora seja um caminho promissor, não está isenta de desafios, muito pelo contrário, você já deve ter percebido alguns deles ao longo desse texto. Portanto, compreender o que te espera e desenvolver estratégias que seja eficaz no controle desses desafios é importante. 

Desafios

Custos: a transição para práticas mais sustentáveis pode envolver investimentos iniciais significativos, como a aquisição de novas tecnologias ou a adaptação de processos. A resistência de alguns fornecedores em arcar com esses custos pode ser um obstáculo. 

Complexidade da cadeia: cadeias de fornecimento globais e complexas dificultam o rastreamento e a gestão de todos os elos. A falta de visibilidade pode tornar a implementação de práticas sustentáveis mais desafiadora. 

Padrões e certificações: esses tópicos podem gerar confusão e sobrecarga para as empresas. A escolha dos padrões mais adequados e a obtenção das certificações requerem tempo e recursos. 

Resistência à mudança: sem dúvidas é um desafio comum em qualquer organização. A implementação de novas práticas pode encontrar resistência tanto por parte dos fornecedores quanto dos próprios colaboradores. Aqui entra, sem dúvidas, um trabalho de difundir as ideias e os objetivos da empresa quanto à agenda ESG e o porquê o fornecedor deve seguir.  

Métricas e indicadores: a definição de métricas e indicadores de desempenho claros e relevantes para medir o progresso em direção aos objetivos de sustentabilidade pode ser complexa. 

Balanço entre sustentabilidade e competitividade: é preciso encontrar um equilíbrio entre as iniciativas de sustentabilidade e a necessidade de manter a competitividade no mercado. 

Considerações

  • Envolvimento da alta gestão é fundamental para garantir o sucesso das iniciativas de sustentabilidade. A alta direção deve estar comprometida com a causa e alocar os recursos necessários. Costumamos afirmar que o movimento ESG é de dentro para fora, de cima pra baixo;  
  • Comunicação transparente e comunicação aberta com todos os stakeholders, incluindo fornecedores, clientes, colaboradores e a sociedade em geral, é essencial para construir confiança e apoio; 
  • Colaboração com outros atores da cadeia de valor, como empresas, governos e organizações da sociedade civil, pode acelerar a implementação de práticas sustentáveis; 
  • Paciência e persistência, pois, a transformação da cadeia de fornecedores é um processo gradual que exige resiliência. É importante celebrar pequenas vitórias e ajustar as estratégias conforme necessário; 
  • A capacidade de adaptar as estratégias às mudanças do mercado e às novas tecnologias é fundamental para o sucesso a longo prazo. 

 

Como abordar os fornecedores sobre as práticas de sustentabilidade? 

Tente uma abordagem clara, colaborativa e educativa, considerando que nem todos os fornecedores estão familiarizados com o tema ou sabem por onde começar.  

O primeiro passo é comunicar de forma transparente o compromisso da empresa contratante com a sustentabilidade, explicando que essa é uma prioridade estratégica e que se espera que os parceiros de negócios também compartilhem esse objetivo. Reforce que a implementação de práticas sustentáveis não é apenas uma exigência da empresa, mas uma oportunidade de gerar valor para ambos os lados, aumentando a eficiência, a confiança e a competitividade no mercado. 

Ao abordar o tema, evite uma postura impositiva. Em vez disso, promova uma conversa aberta para entender o nível atual de conhecimento e práticas dos fornecedores em relação à sustentabilidade. Pergunte sobre as iniciativas que já estão em andamento e apoio para identificar áreas de melhoria. A criação de um plano de ação em conjunto, com metas claras, pode ser uma boa solução, além de oferecer recursos como guias, workshops e treinamentos para ajudar os fornecedores a compreenderem melhor o que é sustentabilidade e como podem ser incorporados aos seus processos. 

Outro ponto importante é mostrar que práticas sustentáveis vão além do cumprimento de critérios legais, englobando também questões de eficiência energética, gestão de resíduos, uso responsável de recursos naturais e práticas sociais justas. Oferecer exemplos práticos e acessíveis que estejam de acordo com a realidade de cada fornecedor pode facilitar o processo de adesão, mostrando que é possível adotar medidas progressivas, começando por mudanças simples, e evoluindo para práticas mais sofisticadas ao longo do tempo.  

A comunicação contínua e o monitoramento dos progressos são fundamentais. É necessário acompanhar de perto a evolução das práticas adotadas pelos fornecedores, fornecendo feedbacks construtivos e ajustando o suporte conforme necessário. Incentivar a troca de experiências e boas práticas entre diferentes fornecedores também pode ser uma estratégia interessante, criando um ambiente de cooperação e aprendizado. 

 

O tema ”Sustentabilidade na cadeia de suprimentos” esteve presente no GRT Experience 2024 — O maior congresso de Gestão de Terceiros do Brasil. 

No vídeo acima você sente um pouco de como foi o evento, porque saber mesmo, só estando presente. Foi troca de experiências, de ideias e de conhecimento e, acima de tudo, uma vontade geral em estar junto falando sobre Gestão de Terceiros.

Próximo ano tem a terceira edição e nós já liberamos a inscrição para receber os informativos em primeira mão.