Cálculos Judiciais

Reconvenção trabalhista em empresas de grande porte

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A reconvenção trabalhista é um meio jurídico que bastante útil para empresas, especialmente de grande porte, ao lidar com processos trabalhistas. De maneira simples, a reconvenção é a oportunidade que a organização, ao ser acionada judicialmente por um empregado ou ex-empregado, tem de apresentar uma contraposição às alegações feitas, levantando suas próprias demandas dentro do mesmo processo.  

Por exemplo, se um funcionário entra com uma ação trabalhista pedindo o pagamento de horas extras, a empresa, por meio da reconvenção, pode argumentar que, na verdade, houve um descumprimento de alguma obrigação contratual por parte do colaborador, como a quebra de sigilo ou o desvio de verbas, e solicitar a devida compensação. 

Essa prática otimiza o processo, evitando a necessidade de dois litígios separados, e permite que a empresa apresente suas reclamações de forma direta e rápida. Em empresas de grande porte, onde os litígios trabalhistas são mais frequentes e de maior complexidade, a reconvenção trabalhista entra como um método para proteger os interesses da organização e garantir que suas alegações também sejam ouvidas no tribunal. 

 

Reconvenção x Contestação  

A diferença entre reconvenção e contestação está no tipo de resposta que a empresa, como parte reclamada, apresenta em um processo trabalhista.  

A contestação é a defesa apresentada pela empresa diante das alegações do trabalhador, buscando refutar ou justificar os pontos levantados na ação trabalhista. Nela, a empresa se limita a argumentar que não deve os valores ou direitos solicitados, explicando por que as reivindicações do empregado não procedem. É um ato reativo, no qual a empresa defende-se das acusações sem fazer novas exigências.  

Já a reconvenção vai além da defesa. Trata-se de uma contraposição ativa, onde a empresa não só responde às alegações do trabalhador, mas também apresenta suas próprias reivindicações dentro do mesmo processo. Ou seja, além de se defender, a empresa pode pedir, por exemplo, ressarcimentos ou indenizações por prejuízos causados pelo trabalhador. Nesse caso, a empresa se torna uma “reclamante” no mesmo processo. 

 

Quando a reconvenção trabalhista é cabível? 

Quando a empresa não apenas deseja se defender das acusações feitas na ação trabalhista, mas também tem uma pretensão própria a ser julgada. Isso ocorre em situações em que a empresa entende que sofreu algum dano ou prejuízo causado pelo trabalhador e quer buscar reparação no mesmo processo.  

Por exemplo, se houver alegações de que o colaborador violou cláusulas contratuais, cometeu faltas graves ou causou danos materiais ou morais à empresa, é possível se valer da reconvenção.  

É importante destacar que a reconvenção precisa ter relação com o objeto do processo original. Ou seja, a empresa não pode simplesmente incluir qualquer tipo de demanda, mas sim algo que estejam diretamente ligados à relação de trabalho entre as partes.

 

Benefícios da reconvenção para grandes empresas  

Economia de tempo e recursos 

Para empresas de grande porte, que frequentemente lidam com um volume considerável de litígios trabalhistas, a reconvenção pode ser uma estratégia altamente eficiente.  

Ao permitir que a empresa apresente suas próprias reivindicações dentro do mesmo processo, a reconvenção elimina a necessidade de iniciar um novo litígio em separado. Isso resulta em economia de tempo tanto para a equipe jurídica da empresa quanto para o tribunal, e em redução de custos processuais, como taxas judiciais, honorários advocatícios e despesas com acompanhamento de duas ações distintas.   

Compensação de prejuízos 

Em grandes empresas, é comum que, ao longo do contrato de trabalho, possam ocorrer situações como má-fé, quebra de sigilo, apropriação indevida de recursos ou até danos à reputação da empresa. Com a reconvenção, a empresa pode reivindicar reparações por esses danos, buscando uma solução financeira que compense os prejuízos, o que ajuda a mitigar perdas e reforça a ideia de justiça no processo. 

Fortalecimento da posição em uma disputa judicial 

Ao utilizar a reconvenção, a empresa assume uma postura mais ativa e estratégica no processo judicial. Em vez de simplesmente reagir às alegações do trabalhador, coloca suas próprias demandas na mesa, fortalecendo sua posição perante o juiz e sinalizando que tem motivos sólidos para também ser compensada.  

Isso pode gerar um impacto importante na condução do processo, demonstrando que a empresa não é apenas uma “ré”, mas também uma parte que busca reparação de danos. Essa abordagem proativa pode equilibrar a balança nas decisões judiciais e até influenciar nas tentativas de acordos. 

 

Jurisprudências em reconvenções trabalhistas 

Analisar casos práticos e decisões judiciais relevantes, é possível entender como os tribunais têm interpretado a utilização dessa ferramenta pelas empresas e as tendências que se desenham nesse campo. 

Ao longo dos últimos anos, alguns casos ganharam destaque e ajudaram a moldar o entendimento dos tribunais sobre o tema:  

Reconvenção para recuperar danos patrimoniais:  

Um exemplo comum ocorre quando o trabalhador, durante a vigência do contrato, comete algum ato de má-fé, como apropriação indevida de valores ou desvio de recursos da empresa.  

Em um caso concreto, uma empresa do setor de varejo foi processada por um ex-funcionário que solicitava o pagamento de verbas rescisórias e indenização por dano moral. A empresa, por sua vez, apresentou uma reconvenção alegando que o funcionário havia cometido fraude em operações de venda, causando prejuízo à empresa.  

O Tribunal Regional do Trabalho (TRT) reconheceu o direito da empresa de pleitear a reparação do prejuízo, decidindo pela compensação do valor que o trabalhador deveria receber com o valor do dano causado à empresa.  

Reconvenção por danos à reputação:  

Outro caso envolveu uma empresa de grande porte que foi processada por um colaborador que alegava dispensa discriminatória. No entanto, a empresa apresentou uma reconvenção com base no fato de que o ex-funcionário, ao ser desligado, havia feito declarações difamatórias contra a empresa, prejudicando sua imagem no mercado. 

Nesse caso, o TRT entendeu que a reconvenção era cabível, reconhecendo que o trabalhador não tinha provas suficientes para sustentar a acusação de discriminação, enquanto a empresa demonstrou o dano causado pelas declarações públicas do colaborador. 

 

Dicas Práticas 

Para grandes empresas, a prevenção de ações trabalhistas e a gestão de riscos são aspectos importantes na administração das relações de trabalho. A seguir, apresentamos algumas dicas práticas que podem ajudar sua empresa a minimizar litígios e gerenciar potenciais riscos de maneira eficaz. 

Cumprimento rigoroso das leis trabalhistas 

É um ponto óbvio, mas frequentemente ignorado. Um dos principais pilares para evitar ações trabalhistas é o respeito à legislação vigente. Garantir o cumprimento da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), além de normas de segurança e saúde ocupacional, é o primeiro passo para evitar problemas judiciais.  

Políticas de comunicação clara e aberta 

A comunicação transparente com os funcionários sobre regras, expectativas, direitos e deveres é fundamental. Estabeleça canais de comunicação para que os colaboradores possam expressar suas preocupações ou dúvidas antes que elas se transformem em litígios. Isso também ajuda a construir um ambiente de trabalho mais colaborativo e confiável. Uma forma de colocar em prática esse ponto é estruturando um SAC ou um documento individualizado sem registro de quem fez a denúncia ou crítica.  

Treinamentos frequentes para gestores e RH 

Realizar treinamentos periódicos com gestores e equipes de Recursos Humanos é uma forma de prevenir litígios. Treinar os responsáveis pelas equipes para lidar adequadamente com questões de contrato, rescisões, benefícios e conflitos pode reduzir o risco de erros que geram processos.  

Negociações coletivas  

Em empresas com grande número de colaboradores, as negociações coletivas são uma excelente oportunidade para resolver questões trabalhistas de forma consensual. Manter uma relação saudável com sindicatos e estar disposto a negociar de forma justa pode evitar o acúmulo de disputas e, eventualmente, ações judiciais.   

Mapeamento de riscos e auditorias internas 

Implementar um sistema de auditoria interna regular que mapeie os potenciais riscos trabalhistas é uma prática que pode livrar a sua empresa de ações judiciais. Isso inclui a revisão de contratos, políticas de pagamento de horas extras, benefícios e questões relacionadas à segurança no trabalho. A identificação precoce de riscos ajuda a empresa a corrigi-los antes que evoluam para litígios.  

Registro detalhado e organização de documentos 

Em eventuais disputas trabalhistas, a documentação adequada deixa a empresa um passo à frente. Manter registros completos dos contratos de trabalho, folhas de pagamento, registros de horas, benefícios e qualquer comunicação relevante com os funcionários é importantíssimo principalmente para a equipe de cálculos judiciais 

Política de rescisões 

A gestão de desligamentos também deve ser feita de forma cuidadosa e transparente, seguindo todas as normas legais. O fornecimento de todos os documentos necessários, como guias de FGTS e seguro-desemprego, e o cumprimento rigoroso dos prazos legais ajudam a evitar litígios futuros. Também é recomendável realizar entrevistas de desligamento para identificar possíveis problemas e resolvê-los antecipadamente.  

Assessoria jurídica e contábil  

Contar com uma assessoria jurídica e contábil especializada no direito do trabalho é um respaldo que sua empresa sentirá falta em algum momento, então conte com eles do início. Essas equipes atuam preventivamente, orientando a empresa sobre suas práticas internas, bem como preparam-se para atuar rapidamente em casos de litígios, utilizando ferramentas como a reconvenção trabalhista, se necessário.